quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Contra-Fogos: as humanidades como arma política

“To conclude, I will say that one of the problems is to be reflexive - a grand word, but it is not used gratuitously. Our objective is not only to invent responses, but to invent a way of inventing responses, to invent a new form of organization of the work of contestation and of organization of contestation, of the task of activism. Our dream, as social scientists, might be for part of our research to be useful to the social movement, instead of being lost, as is often the case nowadays, because it is intercepted and distorted by journalists or by hostile interpreters, etc.” (Bourdieu, Acts of Resistance, 1998, pp.58)

Pierre Bourdieu acreditava piamente na inserção aguerrida da figura do cientista social na esfera do activismo político. Longe de se pautar por uma posição neutral e “objectiva”, que muitos autores arrogam para o papel do académico, Bourdieu sempre incitou à utilização dos conceitos, das teorias e dos métodos das humanidades como armas políticas. Como o próprio defendia, “sociology is like a martial art, a means of self-defense”. A sociologia – sua disciplina por excelência – devia ser usada contra os ataques à liberdade, à justiça, à solidariedade social. Muitas vezes ouvimos dizer que as ciências sociais e as humanidades “não servem para nada” e que vivem num hermestismo que se contém em si mesmo, gerando apoplexias internas que impossibilitam o seu escoamento para a “normal” esfera pública. É verdade. Mas o contrário também o pode ser e é neste contexto e com este propósito que inauguramos o blog Contra-Fogos.

Somos um grupo de investigadores da área das humanidades que, em uma palavra, está FARTO. A palavra farto aponta aqui para várias direcções. Em primeiro lugar, estamos fartos que as humanidades sejam vistas como meros devaneios intelectuais para uma pequena elite burguesa que não tem mais nada para fazer a não ser tertúlias diletantes sobre aconcimentos longínquos – longínquo tanto num plano temporal como também espacial e até social. Queremos provar o contrário. Em segundo lugar, estamos fartos do rumo social, político e económico que o nosso país, Portugal, e o nosso continente, a Europa, decidiram tomar. E, assim sendo, tentaremos fazer uso das armas que as humanidades nos têm vindo a oferecer para pôr a nu certos malabarismos dos nossos governantes (tanto nacionais como para-nacionais) e para, quando oportuno, sugerir outras vias, outros caminhos, outras possibilidades. Porque, como disse um dia Gilles Deleuze, “a concept is a brick. It can be used to build a courthouse of reason. Or it can be thrown through the window.” Resta saber na cabeça de quem é que caiu. Façamos pontaria?



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