quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Será que aguentamos este Inverno?

Diz-me a minha costela de historiador que as grandes revoluções se fizeram na Primavera. E bastará um olhar superficial pela cronologia da história Europeia para nos apercebermos de tal. A Revolução Francesa, apesar de ter tido o seu apogeu na tomada da Bastilha a 14 de Julho, iniciou-se com a convocação dos Estados Gerais no dia 5 de Maio. A primeira fase da Revolução Russa, aquela que veio a desencadear todo o processo subsequente, foi posta em marcha no mês de Março com o derrube do Czar Nicolau II. A Revolução Portuguesa, como todos bem (ainda) sabemos, deu-se na alvorada do dia 25 do mês de Abril. De resto, o próprio Maio de ’68, como o nome indica, ocorreu em... Maio; e a vaga actual de revoluções nos países do Norte de África tem o sugestivo nome de... Primavera Árabe.

Onde quero chegar com isto? Quero-vos dizer, quero-vos pedir, quero-vos incentivar a aguentar este inverno, porque a primavera não tarda aí! Os tempos não estão fáceis e o nosso Cerberus contemporâneo (para quem não sabe, trata-se do monstro tricéfalo da mitologia gregra), personificado no arranjinho político governo-troika-BCE, parece já nem estar interessado em guardar a porta do Hades. É que sabem? Entrar ou sair do inferno não tem valor comercial propriamente dito. A semântica da nossa classe política resume-se a austeridade, cortes, reduções e impostos. Redundância atrás de redundância. Parece que os nossos políticos se dedicaram de vez à profissão de tesoureiros do Estado, sem qualquer visão progressista nem sonhos utópicos. O problema é que governar um país não é o mesmo que gerir uma empresa ou secretariar um partido. Não se secretariam ilusões, nem esperanças, nem preocupações dos povos. Pelo contrário, tal fustiga-se, imagina-se, sonha-se e persegue-se.

As vozes da revolução começam-se, pois, a levantar. Boaventura Sousa Santos veio a terreiro, por mais do que uma ocasião nos últimos 15 dias, defender o levantamento imediato de Assembleias Populares Constituintes, um pouco na linha do caso Islandês. Ontem, foi a vez de Otelo Saraiva de Carvalho, personagem pouco consensual (para não dizer mais) da Revolução dos Cravos, defender o mesmo: “Bastam 800 homens!”, disse o militar (http://www.publico.pt/Pol%C3%ADtica/otelo-diz-que-um-golpe-militar-agora-seria-mais-facil-do-que-em-74-e-melhor-do-que-manifestacoes-1520201). A direita anda nervosa e a voz desse nervosismo vê-se, por exemplo, no medo que têm do povo na rua. Ou não tivessem alertado inúmeras vezes para o perigo de distúrbios sociais resultantes das recentes manifestações Lisboetas.

A pergunta que vos coloco é pois: será que aguentamos este inverno? Façamos (mais) um esforço, porque a Primavera está a chegar.

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