quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Um mundo em que cabem muitos mundos

Começo por dizer que não sei muito bem o que são "humanidades". Sei que continuamos a ler as páginas de Aristóteles, Montaigne e Políbio, para falar apenas de gente europeia. Isso chega-me para apreciar a importância da literatura, da história e da filosofia num mundo cada vez mais penumbrento. Muito depois de nos termos esquecido do que é um "gestor de activos" ou uma "consultora estratégica", ainda haverá fãs de Marc Bloch e Vitorino Magalhães Godinho a imaginar mundos antigos e não tão antigos. Também não sei o que são "ciências sociais", embora saiba que não são irmãs das ciências naturais e que, guiadas pela arrogância dos seus ilustres representantes contemporâneos, se auto-flagelarão até à irrelevância.

Sei o que são actos de resistência. Também sei que, nestes dias, todas as palavras que escrevemos devem ser actos de resistência. Devem representar ameaças ao pensamento único. É preciso perder o medo de ser do contra e dizer coisas inconvenientes. Já somos muitas e muitos; nós somos mais uma mão no combate.

Estamos aqui e não descansaremos enquanto a imaginação sociológica não for um direito e um dever. A legitimidade dos sistemas de poder injustos só sobrevive enquanto goza do conformismo lógico e se mantém implícita; trazê-los à luz do dia e zurzi-los com armas de desconstrução maciça também é um acto de resistência, ainda que esteja longe de ser o mais nobre ou valioso. É uma parte da luta. Não estamos sós: somos anões apoiados nos ombros de gigantes; somos mais alguns ombros que sustentam quem não se conforma com as desigualdades, o elitismo e a injustiça.

"Um mundo em que caibam muitos mundos, todos os mundos", disseram-nos os Zapatistas.

Sem comentários:

Enviar um comentário